quinta-feira, 4 de junho de 2009

Entre sem bater Pt 4

Era difícil enxergar o caminho por entre aquelas vielas devido à fumaça que brotava das manilhas e de minha boca. Estava frio, muito frio, as condições perfeitas, não para mim, mas para o corpo, trancado no saco preto, sendo arrastado pela cidade em um carrinho de metal, que rangia, junto com minha espinha.
A essa altura da madrugada já deveria ser possível ver alguns filetes do sol invadindo o horizonte, mas por algum motivo mórbido a noite mostrava que iria durar mais do que o normal.
Ficava claro, agora, da possibilidade de se fazer qualquer coisa nesta cidade. Um homem, vestido com um sobretudo amarelo, carregando um saco preto suspeito em um carrinho marcado com as iniciais da universidade local, se esgueirava impunemente pelas ruas fétidas de uma cidade perdida, estática àquilo, com medo. O homem pára.
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Suspiro.
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Finalmente cheguei ao meu destino, um pequeno e decadente bloco de apartamentos do século passado. Era aonde a Sra. Barker havia morado antes de se mudar aos gavetões de minha casa, um lugar feio, podre e ideal para o fim a ele escolhido.
As chaves rodaram na fechadura com a mesma intimidade de sempre. Estava tudo como eu, a perícia, deixara.
O apartamento fora quase todo esvaziado, deixando apenas uma poltrona, uma TV e por último, mas não menos importante, um freezer, onde a adorável Sra. Barker, que sorria para mim, dormiria.
Com tudo aprontado, eu só precisava sabotar a coleta de lixo e esperar a noite cair, libertando de seus esconderijos os 26 assassinos.
De fato, o dia não viera, por volta das 6 da manhã, uma chuva torrencial despencou da nuvem negra que se formara no céu. A cidade estava de luto, mas não por muito tempo.
Sabotar o caminhão de lixo pré-histórico não foi, nem de perto, a tarefa mais difícil do dia. Na verdade, foi mais uma boa ação do que uma sabotagem. Espero que agora resolvam comprar um caminhão novo.
Entrei ensopado no apartamento da Sra. Barker, tomando sempre cuidado com as pegadas, o plano tinha que ser perfeito. Calço as luvas, ponho a Sra. Barker na poltrona, ligo a TV, e instalo o sino da lojinha no alto da porta. Só precisava esperar...
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...
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Levanto de supetão com o barulho frenético do sino, e, desajeitadamente, ligo a câmera, quase deixando-a cair. O primeiro dos 26 infratores começara, agora, a cavar sua própria cova.

2 comentários:

  1. Maldito seja a exclusão digital.. Então, eu sem querer deletei o texto, e junto os comentários.. Só pra resumir: Falaram muito bem do texto e disseram que eu sou o cara e que devo escrever um livro! =D

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  2. Racionais JMjunho 25, 2009

    Como eu recentemente bati a cabeça e estou sofrendo de uma séria patia de aminésia-super-seletiva-e-condicional, só posso fazer concordar que realmente disse isso;
    talvez seja só por causa da aminésia-ssec;
    talez não...

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